17 junho 2013

SHOW DA FÉ


Hoje li uma postagem em uma rede social em que uma cristã evangélica enaltecia os vários cultos dominicais de sua igreja, cujos quais, segundo ela, estiveram lotados nesse domingo. Para muitos que me leem isso seria a maior maravilha do mundo, afinal de contas quem não quer uma igreja cheia e mais, com vários cultos no domingo e todos igualmente lotados?
Mas é justamente aí que reside a face do engano e a ilusão das megas-igrejas. Essa onda de que todas as igrejas devem ser gigantescas e cheias e que o crescimento deve acontecer a todo custo é uma tentação que pode e tem levado muitos ao desespero, frustação e pior, a banalização do evangelho e da pregação bíblica.
Os textos dos evangelhos, as epístolas e a história, nos asseguram que a igreja não cresce rapidamente. É um trabalho difícil, árduo e nem sempre gratificante. Se voltarmos nosso olhar para os primórdios do cristianismo veremos que não raro, homens e mulheres sacrificaram a vida, posição social, dinheiro e até família pela pregação genuína do evangelho. Vejamos o que nos diz a Bíblia:
“Nas perseguições, nos sofrimentos que conheci em Antioquia, em Icônio, em Listra. Que perseguições eu sofri! E de todas o Senhor me livrou! Aliás, todos os que querem viver com  piedade em Cristo Jesus serão perseguidos. 2 Timóteo 3:11-12 (BJ)
Muitas igrejas em nossos dias crescem através de uma muito bem engendrada estratégia de marketing. Igrejas-shows, onde os líderes são verdadeiros animadores de auditórios e que promovem espetáculos nada espirituais com o simples propósito de entretenimento, usando para isso a Palavra de Deus. Cada semana ou mês tem algo diferente. O povo cego, sendo guiado por pastores mais cegos ainda e ficando à mercê desses espertalhões que em troca do entretenimento supostamente espiritual, lhes amealham quantias vultosas de dinheiro e tudo em nome da fé e da “obra" do Senhor!
Nessas “igrejas”, nada se parece com igreja. Tudo é feito de maneira tal que o fiel se sente em um ambiente onde nada lembra o sagrado é a secularização da fé para atrair mais e mais seguidores.
Será que a igreja precisa de shows para sobreviver? Será que é necessário levar artistas e pregadores eloquentes a peso de ouro para entreter os crentes? De acordo com o Novo Testamento e com a história da Igreja, os discípulos é que era o espetáculo para os romanos, quando eram jogados nas arenas para serem devorados pelos leões ou quando serviram como tochas humanas para iluminar Roma.
A igreja de hoje nos causa vergonha. Não pela sua fragilidade, mas pela sua leviandade em relação à mensagem do seu fundador Jesus. Ele sim, o primeiro mártir, que deu sua vida por nós. Devíamos era lamentar e chorar nossas culpas e não vivermos esse ôba ôba desenfreado em busca de nossa própria satisfação.
Eu pergunto: onde ficam os pobres nesse novo modelo de igreja? E os idosos os pensadores e mestres? Não há lugar para essa gente nas igrejas-shows, porque lá é um espaço onde é proibido pensar e refletir. Lá é lugar de entorpecimento da razão e da fé verdadeira.


Haroldo Mendes