Hoje li uma postagem em uma rede social
em que uma cristã evangélica enaltecia os vários cultos dominicais de sua
igreja, cujos quais, segundo ela, estiveram lotados nesse domingo. Para muitos
que me leem isso seria a maior maravilha do mundo, afinal de contas quem não
quer uma igreja cheia e mais, com vários cultos no domingo e todos igualmente
lotados?
Mas é justamente aí que reside a face do
engano e a ilusão das megas-igrejas. Essa onda de que todas as igrejas devem
ser gigantescas e cheias e que o crescimento deve acontecer a todo custo é uma
tentação que pode e tem levado muitos ao desespero, frustação e pior, a
banalização do evangelho e da pregação bíblica.
Os textos dos evangelhos, as epístolas e
a história, nos asseguram que a igreja não cresce rapidamente. É um trabalho
difícil, árduo e nem sempre gratificante. Se voltarmos nosso olhar para os
primórdios do cristianismo veremos que não raro, homens e mulheres sacrificaram
a vida, posição social, dinheiro e até família pela pregação genuína do
evangelho. Vejamos o que nos diz a Bíblia:
“Nas
perseguições, nos sofrimentos que conheci em Antioquia, em Icônio, em Listra. Que
perseguições eu sofri! E de todas o Senhor me livrou! Aliás, todos os que
querem viver com piedade em Cristo Jesus
serão perseguidos. 2 Timóteo 3:11-12 (BJ)
Muitas igrejas em nossos dias crescem
através de uma muito bem engendrada estratégia de marketing. Igrejas-shows,
onde os líderes são verdadeiros animadores de auditórios e que promovem
espetáculos nada espirituais com o simples propósito de entretenimento, usando
para isso a Palavra de Deus. Cada semana ou mês tem algo diferente. O povo
cego, sendo guiado por pastores mais cegos ainda e ficando à mercê desses
espertalhões que em troca do entretenimento supostamente espiritual, lhes
amealham quantias vultosas de dinheiro e tudo em nome da fé e da “obra" do
Senhor!
Nessas “igrejas”, nada se parece com
igreja. Tudo é feito de maneira tal que o fiel se sente em um ambiente onde
nada lembra o sagrado é a secularização da fé para atrair mais e mais
seguidores.
Será que a igreja precisa de shows para
sobreviver? Será que é necessário levar artistas e pregadores eloquentes a peso
de ouro para entreter os crentes? De acordo com o Novo Testamento e com a
história da Igreja, os discípulos é que era o espetáculo para os romanos,
quando eram jogados nas arenas para serem devorados pelos leões ou quando
serviram como tochas humanas para iluminar Roma.
A igreja de hoje nos causa vergonha. Não
pela sua fragilidade, mas pela sua leviandade em relação à mensagem do seu
fundador Jesus. Ele sim, o primeiro mártir, que deu sua vida por nós. Devíamos era
lamentar e chorar nossas culpas e não vivermos esse ôba ôba desenfreado em
busca de nossa própria satisfação.
Eu pergunto: onde ficam os pobres nesse
novo modelo de igreja? E os idosos os pensadores e mestres? Não há lugar para
essa gente nas igrejas-shows, porque lá é um espaço onde é proibido pensar e
refletir. Lá é lugar de entorpecimento da razão e da fé verdadeira.
Haroldo Mendes